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Não muito tempo atrás, Julia Fischer, do Centro Alemão de Estudo de Primatas, em Gottingen, se divertiu quando viu dois de seus distintos colegas homens se vangloriando sobre um tópico muito diferente dos motivos usuais de bazófias acadêmicas  ensaios publicados, verbas de pesquisa conquistadas, vitórias que humilham intelectuais rivais. “Um deles disse, com orgulho, que tinha três filhos, recorda Fischer. “E o outro rebateu dizendo que tinha quatro filhos”. “Há homens que vão se gabar de seus Porsches”, ela acrescentou. “Aqueles dois estavam se gabando de seu número de filhos.

E embora Fischer relute em estabelecer comparações levianas entre os seres humanos e outros primatas, não conseguiu deixar de pensar nos macacos de Gibraltar, que ela estuda e para os quais não há nada que confira mais status ou impressione mais os outros rapazes do que caminhar pela região carregando um filhotinho.

Em estudo publicado na edição atual da revista Animal Behaviour, Fischer e seus co-pesquisadores descrevem o modo pelo qual os macacos de Gibraltar usam os filhotes como “dispendiosas ferramentas sociais”, para o propósito expresso de formar relacionamentos com outros machos e expandir sua influência social. “Se você deseja fazer amizade com o potentado local, melhor levar um bebê. Se o objetivo é reforçar uma aliança com outro macho ou reparar uma amizade abalada, melhor não esquecer o bebê.

Não importa que o filhote seja mesmo do macaco em questão. Desde que tenha o pêlo escuro e negro e o rosto rosado e enrugado ao qual os macacos de Gibraltar machos e adultos consideram impossível resistir. “Eles seguram o filhote como se fosse um objeto sacro, o acariciam com os focinhos, fazem ruídos para expressar admiração!”, diz Fisher. “É uma cena um tanto intrigante”, diz Fischer.

Em tempo para o Dia dos Pais (que aconteceu dia 20 de junho nos Estados Unidos), este e outros estudos revelam casos surpreendentes, exóticos ou vagamente perturbadores de comportamento paternal masculino  e de uma atenção cuidadosa e ávida às necessidades dos filhotes que por muito tempo era considerada como reservada às mães.

Os cientistas descobriram, por exemplo, que o peixe cachimbo macho – que, como seus parentes, os cavalos marinhos, é famoso por sua capacidade de engravidar e parir filhotes vivos – é tanto mais generoso quanto mais calculadamente severo para com seus filhotes do que se acreditava anteriormente, dada sua capacidade de realizar sintonia fina no volume de nutrientes atribuído a cada filhote em gestação de acordo com os sentimentos que tenha para com a mãe.

Na maiorias das espécies de pássaros, machos e fêmeas se revezam para chocar os ovos e apanhar insetos com os quais alimentar os filhotes. Mas algumas aves de maior porte, a exemplo das emas e nandus, têm o macho como único responsável pelo ninho.

Já foram descobertas provas científicas de que a responsabilidade paterna pelos filhotes talvez representa o programa primordial das aves, remontando aos famosos ancestrais dos pássaros, os dinossauros. Por que os machos de algumas espécies cuidam prolongadamente de seus filhotes enquanto outros tendem a se afastar, pós-coito? As razões variam amplamente e nem sempre são fáceis de discernir.

Em 90% das espécies de mamíferos, a promiscuidade é comum e a paternidade incerta; as fêmeas gestam filhotes no interior de seu organismo e os mantêm provisionados com leite materno, e os machos raramente têm incentivo evolutivo para assumir responsabilidades paternas mais amplas. Mas dos restantes 10%, que formam o grupo dos papaizões, consta claramente a maioria dos primatas do planeta.

“Muitos primatas adoram bebês”, diz Sarah Hrdy, especialista em primatas e autora de um livro sobre a maternidade entre eles. Considerem a maneira pela qual duas pequenas espécies de macacos das Américas, o sagui cabeça de algodão e o sagui comum, reagem à gravidez de suas parceiras.

Os hormônios dos machos mudam, as conexões dendríticas de seus cérebros começam a mudar e eles ganham peso – tudo isso como preparação para as cargas pesadas que terão de portar. As fêmeas de ambas as espécies em geral têm filhotes gêmeos; somados, eles pesam cerca de 20% do peso do macho, e do momento em que nascem até que se tornem autônomos o macho terá de carregá-los quase o tempo todo.

Se estiver sentado, terá os filhotes no colo. Quando eles saltam de galho em galho, os gêmeos se agarram às reconfortantes almofadas térmicas que existem nos ombros dos pais. Se ouvir os bebês chorando, o macho é incapaz de resistir ao impulso de apanhá-los no colo.

Em estudo publicado pelo American Journal of Primatology, Sofia Refetoff Zahed e seus colegas na Universidade do Wisconsin compararam as respostas dos pais experimentados e dos machos inexperientes quando ouvem o som de um bebê macaco se queixando, em uma jaula distante.

Sem exceção, os pais experimentados atravessam uma ponte para chegar ao ponto de onde vem o chamado, e o atendem em cerca de 45 segundos. Já os machos inexperientes, em contraste, demoram bem mais. (Um minuto, cinco minutos – hahaha. Bem, talvez seja melhor ver qual é o problema. Mas não, acho que não preciso.) Na metade dos casos, os machos inexperientes nem chegam à jaula de onde vem o chamado antes que o prazo da experiência se esgote.

Os saguis das duas espécies se tornam pais perfeitos porque suas parceiras são como rainhas-mães em termos de fecundidade. Uma macaca que acaba de parir filhotes não dispõe da energia necessária a arrastar com ela o par de filhotes cada vez maiores não quando deve produzir dosagem dupla de leite e engravidar de novo cerca de duas semanas depois de parir.

“Quando comecei a estudar macacos, eu via as fêmeas como muito maldosas”, diz Zahed, que está trabalhando para obter seu doutorado. “Os filhotes tentavam pegar comida, pegar aquilo que a mãe tivesse nas patas, mas a mãe tomava a comida de volta e ia embora. O pai, por outro lado, sempre abria mão da comida e permitia que os filhotes fizessem tudo que queriam”.

“Foi nessa época que engravidei de meu segundo filho, enquanto ainda estava amamentando o primeiro”, conta. “Só então compreendi: você certamente fica ranzinza”.

Em contraste com a óbvia conexão entre cuidado paterno e bem-estar dos filhotes que os saguis demonstram, a fascinação de um macaco de Gibraltar pelos filhotes muitas vezes pode parecer menos positiva para os pequeninos. Espécie antes abundante na África do Norte mas agora limitada a alguns pequenos trechos de florestas na Argélia, o macaco de Gibraltar vive em grupos de cerca de 30 animais, uma combinação de fêmeas adultas aparentadas e machos adultos não aparentados. As fêmeas parem na primavera, e Fischer diz que a estação “é o momento mais importante no que tange a lidar com os filhotes”.

Dias depois de nascer, todos os filhotes se tornam alvos aceitáveis para as carícias masculinas. “Um macho se aproxima da mãe lentamente”, diz Fischer, “aproveita sua oportunidade e pega o filhote”.
Ele carrega o filhote sob a barriga ou nos braços, e caminha na direção de um ou dois outros machos, e tenta se aproximar. “Se não tiverem um filhote com eles, não podem interagir”, disse Fischer. “Haveria tensão demais entre os machos adultos”.

Um macho pode carregar o filhote com ele por horas a fio. Caso o filhote comece a chorar, ele o leva de volta à mãe para amamentação, mas sem largar o tornozelo de sua preciosa ferramenta de conexão social.
Os pesquisadores presumiam inicialmente que segurar os filhotes tivesse efeito tranquilizante sobre os machos, mas uma medição do nível de hormônio destes provou que na verdade ocorre o contrário: carregar um filhote levar a uma elevação nos hormônios masculinos de estresse.

Os cientistas agora propõem que os machos empregam os filhotes como “símbolos de batalha”, na definição de Fischer, “a fim de demonstrar aos demais machos que são capazes de suportar o estresse”.
Que prova melhor de que um macho é aliado digno, e não sofrerá colapso na temporada de acasalamento, quando os machos precisam formar coalizões a fim de monopolizar as fêmeas férteis e ajudar a dar origem a uma nova geração de ferramentas sociais peludas?

A natureza talvez não tenha conseguido inventar a moda, mas inventou o equivalente à roleta, e às apostas. A bolsa de um peixe cachimbo macho foi por muito tempo considerada como uma área passiva de incubação na qual embriões podiam se desenvolver em segurança, se alimentando de nutrientes fornecidos pela mãe. Mas pesquisas recentes sugerem que os machos também injetam alimento na bolsa, além de regularem a pressão osmótica, a salinidade e o fluxo de oxigênio.

A generosidade paterna tem limites. Em estudo publicado na edição de 18 de março da revista Nature, Kimberly Paczolt e Adam Jones, da Universidade Texas A&M, provaram que a bolsa de um peixe cachimbo do Golfo do México serve como mercado para escambos sexuais e ocasionais guerras.

Os peixes cachimbo machos gostam de fêmeas grandes, e caso se acasalem com um exemplar carnudo concederão às ovas desta fêmea nutrientes adicionais abundantes. Mas se um macho se acasalar com uma fêmea leve, porque não conseguiu encontrar melhor, e na metade da gestação uma fêmea mais gorda nadar por perto, a bolsa do macho sabe o que fazer: abortar ou reabsorver alguns dos embriões existentes e usá-los como alimento para novos.

Sim, os pais adoram assumir responsabilidades, contrariar as probabilidades, expandir o ninho. Em estudo publicado pela revista Science, David Varricchio, da Universidade Estadual de Montana, e seus colegas ofereceram provas de que pelo menos algumas espécies de dinossauros carnívoros assemelhados a aves podem ter atribuído aos machos a responsabilidade por cuidar dos filhotes.

Os pesquisadores argumentaram, para começar, que a descoberta repetida de dinossauros adultos em estreita proximidade a depósitos de ovos indicava que eles não saíam correndo em caso de ameaça, mas ficavam para tentar proteger o ninho. Além disso, o volume total de ovos em cada depósito era impressionantemente vasto, sugerindo contribuição de mais de uma fêmea.

Por fim, os ossos de dinossauros adultos associados aos ninhos sugerem proveniência de animais machos machos que convidavam grande número de fêmeas a se acasalar com eles e a colocar seus ovos em seus ninhos. Esses machos eram bons pais, e as fêmeas sabiam que haviam feito sua parte e podiam deixar o resto com eles.

Fonte: Terra