O “reinado” do urso polar enquanto espécie que representa a ameaça do aquecimento global para o mundo animal pode ter os dias contados. Uma equipe de cientistas acredita que a morsa do Pacífico está “à altura do cargo”.


Tal como os ursos polares, as morsas do Pacífico (Odobenus rosmarus divergens) dependem do gelo que flutua à superfície da água do mar para descansar, procurar alimento e cuidar das suas crias. Tal como os ursos polares, as morsas estão a sofrer com a escassez do gelo nas águas do Árctico durante o verão e outono, cenário que os cientistas atribuem ao aquecimento global. E tal como os ursos polares – incluídos em 2008 na lista vermelha norte-americana -, o estatuto de proteção no âmbito da legislação sobre espécies ameaçadas também poderá ser atribuído às morsas, ainda que seja difícil conseguir um número exato da sua população.
“Não precisamos saber quantos passageiros estão a bordo do Titanic para perceber que estão em perigo quando embatem contra um iceberg”, comentou Rebecca Noblin, da organização Center for Biological Diversity, que advoga o estatuto de espécie ameaçada para a morsa.
Para esses mamíferos marinhos – que, além dos Estados Unidos, vivem apenas na Rússia e Canadá -, os problemas causados pela escassez de gelo fazem-se já sentir no litoral norte do Alasca e no Estreito de Bering, no norte da Sibéria. Pela terceira vez em quatro anos, um grande número de morsas juntou-se este Verão na costa do Mar Chukchi em vez de o fazerem nos bocados de gelo flutuante, como era habitual. Tudo porque a maior parte do gelo desapareceu. Este ano, os níveis de gelo no mar durante o Verão registaram o seu terceiro nível mais baixo desde o início da monitorização por satélite, em 1979, segundo o National Snow and Ice Data Center, com sede em Boulder, Colorado. Cerca de 15 mil morsas começaram a reunir-se em Agosto na costa perto de Point Lay, no Alasca, e agora começam a dispersar, à medida que se vai formando gelo no mar.
Tudo estaria bem se estes novos locais de “concentração” não colocassem problemas. Acontece que afastam as morsas das melhores fontes de alimento, que costumavam encontrar no mar. E se são animais jovens e pequenos, correm mesmo perigo de vida.
No ano passado, em outra região costeira do Alasca onde centenas de morsas passaram a reunir-se, os biólogos encontraram os cadáveres de 131 crias.
O Serviço norte-americano de Pescas e Vida Selvagem deveria ter anunciado no mês passado a sua recomendação para listar a morsa como espécie ameaçada. Mas o prazo foi adiado até 31 de janeiro para dar à agência tempo para avaliar dois novos estudos. Um prevê que o Mar Chukchi fique sem gelo durante três meses por ano até 2050 e até cinco meses no final do século. Além disso, os períodos que o Mar de Bering estará sem gelo também deverão aumentar. O outro estudo calcula que as morsas dependentes do gelo têm 40 por cento de hipóteses de se extinguirem ou ficarem em risco de extinção até ao final do século.
Segundo Joel Garlich-Miller, biólogo do Serviço norte-americano de Pescas e Vida Selvagem, a última estimativa da população de morsas do Pacífico era de 129 mil animais. Anthony Fischbach, biólogo do Departamento Geológico norte-americano, suspeita que possam existir menos crias do que o que seria normal.
Mas os defensores da exploração petrolífera no Mar de Chukchi deverão opor-se à listagem das morsas como espécies ameaçadas. O estado norte-americano do Alasca, que apoia a exploração petrolífera em habitat de morsas, já ameaçou fazer retirar o urso polar da lista e opor-se a novas listagens de espécies.
Fonte: Ecosfera