Mais acusações de corrupção japonesa em reunião sobre baleias
quarta-feira, junho 23, 2010
Postado por Unknown
 
 
Acusações de que o Japão usa ajuda humanitária e favores pessoais  para comprar votos têm circulado quietamente durante anos na Comissão  Baleeira Internacional (CBI), entidade internacional que supervisiona a  conservação das baleias, tradicionalmente objeto de caça dos japoneses.
Agora, as acusações estão às claras na reunião anual da instituição,  depois que um jornal londrino filmou secretamente oficiais de seis  países pobres enquanto negociavam por propinas. O jornal Sunday  Times gravou os representantes conversando com repórteres que se  diziam enviados de um bilionário suíço, com a missão de comprar votos  contra a caça de baleias na reunião que acontece esta semana no  Marrocos.
Os oficiais indicaram que qualquer oferta do suíço fictício teria que  ser superior ao que o Japão já lhes dá. O enviado da Tanzânia, por  exemplo, afirmou ter aceitado viagens ao Japão, onde “massagens”  gratuitas lhe foram oferecidas – as quais ele teria se recusado.
Para os inimigos do Japão, esse fato é prova inegável da influência  japonesa na comissão de 88 nações, que na reunião mais importante em  décadas está considerando uma proposta de suspensão de dez anos na  proibição de caça comercial de baleias.
“A compra de votos é o pequeno segredo sujo do Japão na CBI,” disse o  ambientalista Patrick Ramage, que frequenta as reuniões há 15 anos. Ele  a classificou como “uma tomada lenta e hostil de um fórum  internacional”. E enquanto países mais poderosos tentam usar de sua  influência, o “esforço japonês é sem paralelo,” afirmou.
O Japão nega qualquer delito, e os representantes japoneses afirmam  que a alegação de compra de votos tem o objetivo de desvalorizar a  posição do país na CBI. “Faz parte da nossa política apoiar países em  desenvolvimento”,  afirmou Hideki Moronuki, do ministério de  Agricultura, Floresta e Pesca. “Você acha que esse tipo de apoio  financeiro ao desenvolvimento é algum tipo de propina? Eu acho que não.”
O país insiste que sua caça tem a finalidade de pesquisa científica,  para entender melhor a biologia e organização social das baleias. Mas a  maior parte dos animais caçados acaba em mesas de jantar e não em  bancadas de laboratórios, e os japoneses dizem que a caça é uma questão  de orgulho nacional.
O Sunday Times também afirmou que o chefe da conferência em  Marrocos, Anthony Liverpool, teve sua conta de hotel paga com um cartão  de crédito pertencente a uma empresa japonesa de Houston, Texas.  Liverpool é um diplomata de Antígua e Barbuda e seu embaixador no Japão.  Quando questionado pelo jornal sobre ter aceitado o dinheiro japonês,  Liverpool teria dito: “Sim, mas não há nada de estranho nisso.”
A CBI foi criada após a II Guerra Mundial para conservar e manejar a  população mundial de baleias. Dezenas de milhares de animais foram  caçados todos os anos até que a BCI adotou a proibição, e agora cerca de  1.500 animais são mortos todos os anos pelo Japão, Noruega e Islândia.
O tráfico de influência vem de décadas atrás. Birgit Sloth, uma  antiga enviada do governo da Dinamarca, lembra-se de ver o negociador  chefe de uma nação caribenha pagar com um cheque em iens japoneses as  taxas da associação em uma reunião da CBI na Inglaterra, no início dos  anos 80. “Naquela época ninguém prestava muita atenção. Hoje, tudo é  muito mais camulado,” afirmou.
Leslie Busby, na época junto à ONG italiana Third Millenium  Foundation, compilou um relatório de 95 páginas em 2007 sobre a  “operação de consolidação de votos” japonesa. Ela afirmou que 28 países  tinham sido recrutados para a CBI por conta do auxílio japonês –  incluindo países sem saída para o mar como Mali
– dando à agência  regulatória uma proporção de meio a meio entre nações a favor e contra a  caça de baleias.
Segundo Busby, os países que recebem verba japonesa sempre votam de  acordo com seus interesses. “Isso torna a discussão sem sentido. Não  vale a pena debater a questões nas reuniões porque as posições já estão  determinadas,”  disse em uma entrevista.
Toma lá, dá cá
Alguns dos apoiadores dos países baleeiros têm tradições na caça e  pesca. Mas o Japão também tem o apoio regular de países que nunca  tiveram interesse na pesca de baleias, como as nações africanas. “O  Japão está ajudando bastante a África Ocidental. Em troca, ele pede a  esses países que votem a seu favor nas reuniões da CBI,” diz Mamadou  Diallo, um ex-pesquisador do governo senegalês que hoje trabalha para o  WWF. “É um ‘toma lá, dá cá’. Sim, pode-se dizer que é propina, porque os  países africanos não seriam normalmente a favor de caça de baleias.”
Para países pobres, um voto na CBI pode não ser um preço tão grande a  pagar. Tiare Turang Holm, enviada do Palau, no Pacifico Sul, diz que a  caça é um tema periférico para seu país. Então, o voto acaba sendo mais  “um apoio a nossos amigos, nossos parceiros de desenvolvimento.”
E o Japão não é o único a fazer pressão. “Mas é o mais descarado e  exige votos em troca de seu apoio financeiro,” diz Sue Miller Taei, de  Samoa. “Eu já vi o Japão intimidar diretamente países do Pacífico Sul,”  disse lembrando de uma ocasião em que um delegado japonês levou enviados  do Pacífico relutantes para votar numa reunião da CBI. “Por muito tempo  aqueles diplomatas não conseguiam me encarar nos olhos.”
Fonte: Último Segundo
 
 








 

 
